Acabado de chegar de um aprazível encontro, leio todo este livro de um fôlego. E ganho alento. Deixo-vos com dois poemas de Nas Palmas da Noite, na convicção de que estou a partilhar convosco o que de melhor me acontece. Podereis avaliar:
O FUNÂMBULO
O funâmbulo encontra no trajecto o seu alento,
por um fio de aço, ascendendo, contra o tempo.
O olhar busca o frágil vulto desterrado,
num esplendor de projectores, encandeado.
Por uma eternidade parecera dar-lhe o vento,
(estivera um instante ausente, e desatento).
Só, no espaço, sua atenção é exigida,
pois apenas um arame o prende à vida.
Mas desliza, agita o ar, num gesto alado,
e sobe ao refúgio, no zimbório prateado.
O PINTASSILGO
Num dia claro
uma ave – um pintassilgo –
vem-me dizer
que o silêncio
é um lugar cinzento
onde viver.
– Desperto o silêncio.
Diz
perto
o pintassilgo.
– Morrerei se emudecer.