Dias 28 e 29 terá lugar mais um Encontra A Funda, que já vai na sua 9ª edição. Encontros saudáveis de gente boa com a cabeça bem arejada, sempre se têm pautado como excelentes convívios, onde se assumem posturas descomplexadas e iconoclastas, aos quais me tem dado especial gozo participar.

Posto isto, o cenário deste encontro é Coimbra e o seu Mondego. Cá lhe deixo um dos meus «poemas descritivos» que amanhã será dito a bordo do barco que nos levará em passeio pelo Bazófias:

MONDEGO

que sossego, este Mondego…
o maior que vem do centro
e que jovem
bem lá dentro
em vale estreito e fecundo
em meandros encaixado
menininho
e já profundo
é chamado Mondeguinho
coitadinho
estrangulado
é assim que lhe acontece
untar-se junto a Manteigas
e cruzar em águas meigas
a Senhora de Asse Dasse

da Estrela até à Foz
passa pela Livraria
e em chegando à Portela
liberta-se da agonia
ganhando alento e outra voz
e lá vai ele espraiado
tão mais largo
enfatuado
a dar-nos não só o arroz
como a esconder-nos pecados
esse Bazófias cansado
enterrando docemente
no aluvião do presente
o mistério do passado

tem filhos – o Dão e o Ceira
o Alva, Arunca e o Pranto
e netos – Folques e Areeiro
de tanto lhe vem quebranto
e uma Cabra o espreita
badalando vida afora
que é só com ele que se deita
fálica ou falaciosa
na estroina que o venera
venérea
bruta
dengosa
de Coimbra a estudantada
que em seu leito se deleita

e em cada curva do rio
uma sereia te espreita
bela
ondulante
difusa
que de segredos é musa
e dos vates se aproveita
quando é por eles adulada

era um Mondego de enchentes
soberbo
bruto
e audaz
hoje traz consolo às gentes
só mimos
e ali jaz
já sem ter aqueles repentes
de zás-trás-catrapás-pás
de pantanas
de correntes
cantado em tunas dementes
mas
no fundo
bom rapaz

ah Mondego
que refego
que bem sabe este aconchego

mas estarás tu contente
por vegetares nesta paz?…

– poema de Jorge Castro