Homem de incontáveis saberes, generoso comunicador, o Professor Fernando Catarino acedeu amável e prontamente ao desafio proposto de nos trazer a ponte entre a Biologia e a Poesia, dois núcleos centrais dos seus interesses.

Uma sessão mais a não perder para quem possa deslocar-se à Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana, no próximo dia 16 (quarta-feira), pelas 22 horas, onde se pretende mostrar com quantas cores se faz a Poesia.

A propósito, um poema que publiquei no meu livro Contra a Corrente (2005):

Contemplativo
“Estou vivo e sou alguém muito longe” – José Luís Peixoto

estava eu para aqui muito bem sentado a ver o dia a passar por tudo e quase sem dar por mim sussurrava-me um besouro os devaneios das flores sentia o vento trazer-me um solzinho ao fim de tarde como quem namora o tempo a confessar aos botões que bem se vive no campo quando vem de lá a mosca e ao ver-me assim pasmado me leva um sinalzito que tenho junto ao nariz depois veio um moscardão que me rapinou a mão e tudo o que nela havia e ainda a lagartixa em corrida a sete pés roubou-me de lés a lés tudo aquilo que podia nem faltou a borboleta que montada nos meus olhos voou tanto que parecia pedalar bicicleta chegou-se ainda a formiga que chamou logo a amiga com ligeiro piparote levando de mim a trote uma o chiste outra o dichote e já cá faltava o grilo de colarinho dourado pretinho de reluzente numa antena leva um dente e na outra um mamilo já pouco de mim sobrava quando arribou o pardal a debicar-me no peito costela primordial restava-me o coração mas esse fui eu que o dei que o vento era de feição e até o pensamento me deixou no mesmo alento e assim fiquei pela aragem espalhado na paisagem.

– poema de Jorge Castro

Aproveite e traga um amigo e, também, um poema.
Haverá, decerto, espaço para ambos.