Por entre a miríade de ideias que fervilham por esse país fora, pouco mais haverá para dizer sobre o «fenómeno», nem eu sustento cátedra que me sustente nesta matéria.

Mas como cidadão atento e interventivo, há uma pequena achega que julgo vir a propósito e que – devo registá-lo com agrado – vi ser opinião partilhada em recente artigo de António Barreto.

A questão da avaliação de desempenho

Tornou-se, aparentemente, um chavão todos os professores dizerem que não são contra o modelo de avaliação que o Ministério lhes quer impor como suposta panaceia para a melhoria do Ensino, mas apenas contra o seu tempo e o seu modo.

Esta concordância ab initio denota, desde logo, uma preocupação simpática em não querer hostilizar em demasia as «forças vivas (?)» do Ministério mas eu, se fosse a eles, não comprava tão barato esse artigo.

Vejamos: desenvolvo a minha actividade numa empresa que aplica modelos (vários) de avaliação de desempenho, vai para cima de uma dúzia de anos. Qual o resultado prático, independentemente do modelo aplicado? – Nenhum! Para além da burocratice instalada e o faz-de-conta-que-isto-é-sério, que aproveita à comodidade das hierarquias e à acomodação dos subordinados. A lógica instalada é a mesma de que enferma o funcionalismo: vale mais cair em graça que ser engraçado. Conceitos de eficácia e de eficiência, bem como de competência articulada com a concelebrada inteligência emocional não passam por ali.

Neste contexto, a questão que se coloca é a seguinte: em que é que um qualquer modelo de avaliação de professores vai promover a qualidade EFECTIVA do Ensino? E como será possível estabelecer parâmetros – e quem qualificadamente os avalie – para comparação de realidades orgânicas tão diversas quanto o serão uma escola de Freixo de Espada à Cinta, uma escola de Cascais ou uma outra da Reboleira?

E em que é que estabelecer-se que, numa determinada escola, 5% dos professores correspondem a um mirífico padrão de excelência e os outros 95% nem por isso, poderá contribuir para uma melhoria objectiva dessa sagrada arte de transmitir conhecimentos aos alunos?

Dizendo de outra forma, como se medirá o nível de afabilidade de um mestre que, apesar de algumas limitações no seu domínio de conhecimento, tem artes de se fazer entender melhor e ter mais audiência e envolvimento por parte dos alunos relativamente a um seu colega, de longa cátedra suma cum laude, que promove o bocejo e assusta a criatividade?

Estas manias de que a avaliação é redentora e substituirá o mar de carências em que o Ensino – e o resto! – navega, em Portugal, apenas agradam e são sustentados por tecnocratas de pacotilha, cujo objectivo na vida é excitarem-se com números que, de uma forma cada vez mais redonda, provem e sustentem que o quadrado das suas «verdades» deixou de ter vértices e colhe ali prova.

Entretanto, a vida passa por eles, sem que se dêem conta mas, curiosamente, pula e avança!