Se eu não fosse tão ingénuo quanto sou, diria que o programa de ontem, da RTP, o prós e contras da D. Fátima Campos Ferreira, foi imaginado com a pífia intenção – objectivamente falando, claro – de desmobilizar a grande manifestação de professores prevista para o próximo dia 08 de Março.
De novo, relativamente às questões de fundo que enformam a imensa onda de descontentamento e indignação que atravessa um dos sectores mais sensíveis da população – a classe docente – pouco ou nada este programa trouxe para o enriquecimento da análise que aponte para uma solução airosa da crise instalada.
Crise que – e interessa sublinhar – é de exclusiva génese governamental e, nela, a cara visível é a senhora ministra, que, com brutalidade, desregramento, hipocrisia e liminar aldrabice, decidiu atirar todo o ónus de dezenas de anos de estupidez governativa, na área da educação, para cima dos professores.
Sempre a eterna e imbecil “solução” mal remendada dos bodes expiatórios, através da qual tudo foi feito para voltar a opinião pública nacional contra tudo quanto fosse professor, fragilizando ainda mais uma relação que já vivia horas de amargura.
Cá por mim, sempre pensei que um bom professor é aquele que transmite bem conhecimentos. Por outro lado, a massa com que cada professor lida é por demais heterogénea, flutuante e volúvel, para podermos padronizar comportamentos e resultados, ou prescrever receitas universais. Mas com a sanha da “perspectiva empresarial”, Sócrates ignora tudo isso.
Na verdade e como corolário dessa cegueira consciente, ninguém mais do que os actuais “responsáveis” pelo Ministério da Educação favoreceu a indisciplina nas escolas e o desrespeito pelo pessoal docente.
Ora, essas atitudes néscias e míopes podem pagar-se caro, já que a multidão não é fácil de controlar quando toma “o freio nos dentes”. E isto tanto vale para uma multidão de pais, como para uma multidão de professores.
É neste contexto que – pasmem, ó gentes da minha terra! – um cérebro brilhante propõe que, na sociedade civil se crie um grupo de “mediadores” que interfira na crise e se sente sobre ela, equidistante do Ministério e dos professores, na tentativa de promover uma reconciliação e procura de soluções. E a D. Fátima, moderadora do debate, abraçou a causa, com empenho e denodo.
Eu ouço coisas que me deslumbram! Então, em regime democrático, com um governo democraticamente eleito, há que recorrer a terceiros para apaziguar tensões entre governantes e governados, como se estivéssemos em estado de guerra? Sempre pensei que, democraticamente, isso se derimia nas urnas dos votos… ou não?
E, já agora, onde procurar essas personagens independentes, num momento em que já toda a sociedade tomou partido?
Sócrates não previu a dimensão do combate? Foi pena. Mas foi pena para toda a sociedade portuguesa e não apenas para a classe docente. Como ele assegura que faz questão de manter este elenco governativo, na área da Educação, a casmurrice é para manter. Ele lá saberá o que quer.
Eu, confesso, não percebo o que ele quer! Ou, então, se percebo, receio perceber…
Nota final – A D. Fátima, com um zelo notável, fez questão de informar o povo de que o jovem professor que, na sessão anterior, denunciara pressões oficiais para fazer subir as notas dos seus alunos, se teria retractado, confessado precipitação e pedindo desculpas. Tem graça… a mim constou-me que ele tinha sido vítima de um processo disciplinar! Mas deve ter sido boato!…