Há momentos em que a minha tacanhez de espírito até a mim próprio me surpreende e incomoda!…

Isto, claro, a propósito da votação que hoje teve lugar na Assembleia da República quanto ao fazer-se ou não um referendo ao Tratado da União Europeia, que já não é Constituição, mas também não é bem tratado e, se há poucas dúvidas quanto a ser Europeia, há algumas certezas quanto a não ser União…

Para além dos malabarismos socráticos para dar o dito (na campanha eleitoral) pelo não-dito (aquando da recente presidência da União), a verdade é que havia, em tempos que já lá vão, coisas que se chamavam honestidade, seriedade, honra à palavra dada e outras minudências, de que os políticos trampolineiros que nos calham em sorte (e em quem alguns votam, valha a verdade) nem querem ouvir falar.

Daí decorre que não referendar o que, por promessa eleitoral, era altamente referendável, para além da quebra à palavra dada, é uma ostensiva prova de que Sócrates – e Meneses, é bom que se diga! – não estão nada seguros do chão que pisam, nem do povo que, em alternância, (des)governam. Não estão seguros, deve ler-se receiam profunda e fundadamente que o Zé-votante, farto da barriga vazia e das manobras atribiliárias da pandilha que cerca o Estado, fizesse, pelo referendo, pagar o eventual justo – a Europa – pelo descarado pecador – o nosso querido bloco central.

Ora, se entre partes que haviam de estar tão chegadas, como um governo e os seus governados, há esta desconfiança patológica, a questão que se me impõe é esta: urgindo alterar este estado de coisas, quem deverá, então, ser mudado: o governo ou o povo?

Eu cá acho que devia ser o povo, habituado que já está por centenas de anos de diáspora. Nem havia de lhe causar grande transtorno. Ala, tudo daqui para fora e estes mafarricos que se engalfinhem uns com os outros, mas que nos larguem da mão e vão cobrar impostos ao Camões!

Eu, até que se me dava em ir para o Canadá… Não me perguntem porquê, mas talvez porque lá ainda há ursos a sério.

Quando a saudade apertasse muito, haveríamos de regressar, como de costume. Aí veríamos, sem surpresa, a descendência de Sócrates povoando os campos de golfe como transportadores de tacos e a de Meneses frequentando restaurantes finaços como empregados de mesa. Mas tudo já licenciado, claro!!!…

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A propósito da necessidade de denunciar tantas trapalhices, trapalhadas e trampolineiros, convido-vos a uma visita a Crítica de Música/Crítica Musical, de Álvaro Sílvio Teixeira. Que a voz não nos esmoreça!