Parece-me evidente que, depois de tanta encenação, Sócrates não se arriscaria a correr o mais ínfimo risco de que um referendo, em Portugal, chumbasse o novo Tratado. Poder admitir o contrário é que me pareceu, desde sempre, algo néscio.
De Lisboa, já viram bem? Quanta glória imediata para quem enferma deste provincianismo militante de julgar que o título bastará para a nossa glorificação futura na História.
Curiosamente, dou por mim pouco ralado com esta aldrabice do Tratado… Ou também já estou a sofrer os efeitos das anestesias, ou é o meu inconsciente que, mais clarividente do que eu, já sabe que mais tratado, menos tratado, tudo irá seguindo o seu caminho: de um lado quem quer, do outro quem pode.
O que me interessa reter é, tão apenas, o seguinte: o referendo ao Tratado foi uma promessa eleitoral de Sócrates, com base na qual, entre outras, o bom povo português lhe proporcionou a maioria absoluta. Ponto final e não se fala, também, mais nisso.
Ele sabia bem ao que ia quando fez a promoção que fez durante a presidência europeia. Obviamente não iria deitar tudo a perder com uma eventual nega do bom povo português, algo imprevisível em momentos cruciais, o que iria criar um embaraço insustentável aos nossos queridos (des)governantes.
Os seus pares podem estar seguros: Sócrates não os trairá.
Da mesma forma, os portugueses podem estar seguros: Sócrates trai-los-á sempre que lhe for preciso ou conveniente.
Ninguém tem, pois, razões para andar enganado.
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Amante fervoroso da liberdade, não cesso de me abismar com a estultícia do homo sapiens democraticus revelada em algumas formas que descobriu para atingir a chamada democracia representativa.
Aí está a campanha dos EUA. Os candidatos “democráticos” estoiram fortunas para ganharem posição sobre os outros candidatos… “democráticos”. Os candidatos “republicanos”… fazem o mesmo em relação aos “republicanos”.
No fim, o melhor de cada lado corre o risco de vir a ser vencido pelo (finalmente) suposto adversário não nas urnas, mas através de uma golpada administrativa qualquer, como aconteceu com Al Gore. O povão, entretanto, por lá anda…
E o mundo todo tão necessitado de recursos que assim se malbaratam em palhaçadas.