27 canetas de prata produzirão 54 assinaturas nos dois livros do acto formal de assinatura do assim chamado Tratado de Lisboa.
Nós, por cá, lá vamos indo, penando penas que nos vêm dos egrégios avós… Vencimentos a perder de vista relativamente aos demais parceiros europeus, uma carga fiscal digna de figurar no Guiness, paz-pão-saúde-habitação com relações de custo-qualidade miseráveis, educação e saúde em carreira aceleradamente descendente, em busca da privatização do nosso descontentamento, pela mão de hipócritas personagens que supostamente elegemos…
Somos grandes no desemprego, no custo de bens e serviços, no sol e na seca. Acabam-nos com o medronho, com os copos de vidro, com as castanhas, tudo transformado no fumo que, poética mas desgraçadamente, sai do assador das ditas, evolando-se no etéreo azul, sem que alguém estrebuche, nem sequer em estertor moribundo.
Lê-se pouco e mal, com o parco dinheiro sobrante diluído em estádios de futebol espantosamente cheios por quem já nada parece querer da vida para além de uns chutos.
Os ‘choques tecnológicos’, anunciados com pompa e circunstância idiotas, tropeçam logo depois em ineficiências gritantes e esperadas, por desajuste de estruturas e deficiência de meios humanos e outros.
As leis, regulamentos e demais normas vão sendo passajados e cerzidos ao sabor de conveniências pontuais e tantas vezes dirigidas, que agravam injustiças e tratamentos dúplices.
As inúmeras áreas de efectiva excelência em que – contra ventos e marés – continuamos a ser pródigos, ficam a dever-se, as mais das vezes, a iniciativas pessoais para as quais o Estado olha (e se serve) apenas quando o sucesso já foi atingido a duras penas. Até lá, ele prima pela ausência distraída.
Relativamente à tal ‘Europa’ convergimos, afinal, para o quê? Para além deste cadinho de experiências toscamente maquiavélicas para onde nos vamos vendo empurrados?
C’um camandro! Este cepticismo anda a dar-me cabo do fígado. Deve ser da quadra que atravessamos, que me puxa sempre, atavicamente, de forma exacerbada e porventura algo anacrónica, para o espírito solidário, ainda mais agudo nesta altura do ano.
Esperemos, pelo menos, que as tais canetas sejam em filigrana, como manifestação de individualidade cultural. Mas não me acredito que Sócrates tenha pensado nisso…