Andava há uns tempos com uma vontade enorme de rever o velho Jardim Zoológico de Lisboa, numa visita à família, como o anedotário caseiro e muito batido chamava àquela deambulação obrigatória. E neste fim de semana a oportunidade surgiu…

Critique-se muito ou pouco o conceito, afine-se ou não pelo diapasão mais agreste dos conservacionistas, aceite-se mais ou menos que aquele é sempre um lugar de cativeiro de animais para mero desfrute dos humanos, certo é que as lógicas dos homens assim os estabeleceram, ainda que o evoluir dos tempos vá aconchegando os conceitos e, logo depois e mais lentamente, as práticas.

Fui, então, em busca da aplicação dos novos conceitos na matéria – mais do que dos velhos – no nosso vetusto Zoo lisbonense. E devo dizer que, no que toca aos novos espaços para tigres, gorilas e chimpazés, assisti a aparentes progressos, dignos de algum registo.

A aparente beleza bucólica, ao longe…Entretanto, não deixei de apurar, uma vez mais, o estado de abandono e desleixo que, também ali, não deixam de grassar em jardins de notável beleza, completamente ao abandono, quando podiam constituir espaços de imensa fruição e qualidade para quem lá vai e aprecia o sossego, na companhia, ainda que enclausurada, da tal “família”.

… disfarça o vandalismo, o abandono, a ruina e o mau cheiro, ao perto.(Para localizar o recanto e atentar nos detalhes, basta seguir o rasto dos pelicanos)
E, como complemento a propósito, não posso deixar de vos referir a incontrolável urticária que me avassalou com os fundos “musicais” que atroam o ar nos “espectáculos” com morsas, golfinhos e répteis vários.

Qual será a central de controlo de mentes que nos quer convencer a todos – e que parece estar a ser bem sucedida – que, em todo e qualquer espaço público, quando queremos mostrar que estamos divertidos à brava, há que fazê-lo através da alta berraria da expressão musical que dá pelo nome de “bate-estaca”?

É verdade que a Feira Popular encerrou e a sua ressurreição não tem data anunciada. Mas a transformação paulatina do Zoo em Feira Popular não me parece que nos traga virtualidades pedagógicas, como parece ser a preocupação primeira da actual direcção daquele espaço.

Ou então a lógica é uma batata, onde a música é de bate-estaca e nem se divisa razão para que o garrafão de 5 litros não volte a acompanhar a alegre família pequeno-burguesa de visita aos “primos”, em piquenique selvagem, lançando restos aos crocodilos e imitando o pobre elefante a dar ao badalo a troco de uns cêntimos.
Por mais goriláceo que se seja, não há macaco que aguente!…

– fotos de Jorge Castro