Não restarão grandes dúvidas, a quem vá seguindo as notícias sobre o famigerado “concurso dos professores titulares”, que a senhora ministra da Educação e a sua comandita sujaram, uma vez mais, um pé todo nesta confusão baralhada a que só à força de algum esforço criativo se poderá chamar o Ensino em Portugal.

É claro para todos que o concurso promove as habilitações – mesmo aquelas que saem na farinha Amparo – em detrimento do mérito comprovado no terreno. Perpetua-se assim a lusa pecha do “canudo” a suplantar tudo e todos. Agora ajudado pela ansiedade manifesta de Sócrates em combater, a martelo, a alegada falta de formação dos portugueses. Veja-se a aplicação do Processo de Bolonha em lusas paragens…

No entanto, para ajudar à corda do sino tocando a rebate pelas acções da senhora ministra, vem também o senhor provedor da Justiça, Nascimento Rodrigues, alertar para aquilo que chama “flagrante injustiça no quadro legal do concurso”. Denuncia, ainda, a subversão grosseira das classificações dos professores, entretanto em vigor, sedimentadas em anos e anos de dedicação do quadro docente das escolas públicas, e que este concurso varreu, sem escrúpulo nem comedimento, esquecendo que as regras que vigoravam foram estabelecidas pelos sucessivos Ministérios e não pelos professores, que a elas apenas se submetiam.

Até para os mais renitentes, para aqueles que cultivam a dúvida metódica como meio de nunca chegarem a lado nenhum a não ser o que lhes aproveita, já foram enunciados sobejos argumentos provando à saciedade que a metodologia seguida para o nefasto concurso não é séria nem honesta, tendo originado mais uma infinidade de situações anómalas e iníquas no enorme pântano em que os sucessivos governos transformaram o Ensino.

Pior, criaram um elemento de clivagem entre professores do qual não se vislumbra qualquer efeito salutar para o melhoramento da transmissão de conhecimentos, promovendo a desmotivação, o deixa-andar e… – não me custa muito deitar-me a adivinhar – a naturalíssima atitude do “porquê eu? Os titulares que façam…”.

Algumas dúvidas, pelo caminho, se me colocam:

– A lógica dos “titulares” e “não titulares” também incidirá nos estabelecimentos de ensino privados? E, se sim, a quem e como competirá certificar habilitações?

– Espanta-me que os professores (e os sindicatos, claro!) tenham tido a falta de visão de alinhar neste engodo. Afinal, o “concurso” nem era obrigatório. Não teria sido mais avisado ter-se verificado um boicote generalizado a uma iniciativa com a qual todos estavam em desacordo? Vamos lá ver o quanto custará a todos este egoismozinho néscio ou, convenhamos, algo cobardola.

Esclareçamos: no lugar do professor isolado, confrontado com o facto consumado, eu também teria, provavelmente, concorrido. O que não se percebe é como, havendo tanta rejeição de todos, ainda assim o concurso avance, sem que alguém tenha sequer esboçado um acto colectivo… que poderia ter passado pela palavra de ordem de recusa ao concurso. Assim se clarificaria, pelo menos, o lado em que cada um se encontra. Mas isto é impensável em Portugal, com cada um a orar para a sua capelinha e mais preocupado com a dimensão do próprio umbigo. Ainda se algum grupo de militares tivesse apoiado tal movimento…
– E os papás? De agora em diante vão querer saber quantos “titulares” é que lhes caem em sorte nas turmas dos petizes? E como será se “a turma do meu filho tiver menos titulares do que a do teu”? Ou será – como já se receia, aliás – que os tais “titulares” se dedicarão a tempo inteiro aos cargos directivos das escolas, mais ou menos burocratizados, abandonando as funções de docência?

Entre TLEBS, exames de aferição, atitudes censórias e cursos de conveniência, estou, muito lamentavelmente, cada vez mais convencido de que se promove o triunfo dos porcos neste “nosso” sistema de ensino!…