Nos próximos dias 23 e 24 de Junho, promovido pelo blog A Funda São, terá lugar, em Caria e arredores, o VII Encontra-A-Funda, saudável desvario iconoclasta, do qual muito me apraz participar.

A sua mentora, a inefável São Rosas, lançou-me, há uns meses atrás, um desafio que consistia em produzir um Auto, à moda de Gil Vicente, mas com a envolvência de personagens da “pós-modernidade”.

Daí nasceu o “Auto das Danações“, a minha obra mais recente, uma vez mais contando com a alegre e interessada edição da Apenas Livros, Lda., que acedeu, até, ao despautério de alinhar numa edição especial para os participantes naquele Encontro. A tanto chegou o espírito de colaboração…

Esta obra, que conta com o apoio, para o lançamento, do próprio Gil Vicente – o que não menos me apraz – irá ser conduzida em braços até à cena, na Quinta do Panasco (!?…), lá por Caria, pela reputada e inconcebível Tuna Meliches, da qual estou em condições de poder assegurar que sempre se pode esperar o pior.

Não posso deixar de aconselhar, pelo menos, uma vista de olhos pela programação do evento, através do link acima, garantindo que esta vida são dois dias (ou três, no máximo…), que convém aproveitar.
Permitam-me, então, que vos anuncie o prefácio da obra:

“Versalhada em um acto, que o tempo não está para desperdícios que não atem nem desatem.

Tendo Gil Vicente como fonte cristalina, fresca e exemplar nessa arte de bem zurzir quem o mereça, apreciando de viés o que o mundo nos mostra e tentando entrever o que ele nos esconde, assim foi concebido este Auto.

Será Auto de notícia que, se a vossa benevolência o permitir, ficará para o porvir como retrato a preto e branco, não revelado, isto é, em negativo, deste nosso tempo.

Não é todo o mundo – ou até tão só todo este nosso aprazível recanto – feito destas graças e desgraças. Mas muito dele é assim feito, por defeito, por acaso ou por conveniências. De qualquer modo, os retratos foram tirados a personagens da nossa praça, envoltos num caldo de cultura que, também esse, tem tonalidades muito nossas e entranhadas.

Há, como se presume, na massa do ilustre sangue lusitano, alguma valentia sorna, contraposta aos brandos costumes – que tanta vez escondem a hipócrita ou cínica violência – que nos moldam e por quem nos deixamos moldar e que, misturados no cadinho da vida, motivam esta tão peculiar forma de estar, sem paralelo mundial – pelo menos, tanto quanto diviso daqui da minha rua…

– Jorge Castro
Abril de 2007″

Nota – Os interessados na aquisição de um exemplar – custo de capa 3,10 € – peço que me dêem conhecimento através do email jc.orca@gmail.com.