fontes
regatos
estrelas de papel
retratos que pintou a mel e fel
na terra agreste
e os montes pedregosos
junto ao céu
num grito de poeta que se ouviu
de leste a oeste
duras as pedras e o olhar
que o pão não nasce do chão
só por nascer
sem haver as mãos para o semear
um orgulho de crescer para trás dos montes
entre trigais e lameiros e granitos
onde se douram intensos como gritos
ervas do campo e horizontes
e as estevas
as urzes
entre os xistos
segredam-nos segredos que só vistos
por alguém que a si se faz
alto e sereno
um hino
a cada passo
ou então um ninho
em que sabe ouvir a voz de um passarinho
no fragor do temporal num mês de Março
mão amiga e redentora
que assegura
na rudeza cruel da desventura
poder ser melhor o seu destino
mas ter a grandeza
entre o negrume
de gritar numa voz acesa em lume
de ter ele feito o que fez
por ser capaz
e assim
mesmo sem querer
viver na paz
pela luta vivaz que à vida imprime
e assim
mesmo sem querer
ser sublime.
– poema de Jorge Castro