árvore?
não sei
mãe…
ficam campos na secura
fica o restolho rasteiro de lavras sem arvoredo
fica o mato de enfezado entre o fogo e a geada
fica o cabeção da serra calvo de pedra nevada
fica só mato
e mais
nada

árvore?
não sei
mãe…
dizem-me que alguma havia
dizem alguns que a viram na fuligem da cidade
dizem outros que a sentiram na voragem dos sentidos
dizem mais que só cresciam pelas mãos que as semeavam
dizem também que nasciam ao abandono da estrada
mas já
não ouço
mais nada

árvore?
não sei
mãe…
queria tê-la plantado
queria tê-la protegido
queria ao sonho levá-la
desde logo que nascido

mas só há mato e arbusto
há tanto susto na estrada
há um denso lusco-fusco
e além dele
não há nada

é só da árvore
que sei
e do que sei
quase nada

árvore?
não sei
mãe…

mas hei-de saber da estrada
por ela te levarei
de árvores ladeada.

– foto e poema de Jorge Castro

Nota –
Este poema será dito por mim, no próximo dia 21 de Março, a partir das 14 horas, na RTP 2, no programa Sociedade Civil, integrado no
dia Mundial da Poesia e da Árvore.

Comigo, a dizer poemas, estarão
a Sofia Reboleira e o José Jorge Letria.
Para o vosso agrado.