Dos jornais, de 03 de Outubro de 2006: “os caracóis são peixes de água doce”, afirmação constante na legislação comunitária que sustenta a manutenção de subsídios às quintas de caracóis francesas…

um caracol dá em peixe
um chuvisco em trovoada
uma alforreca em desleixe
cruza as pernas na esplanada

um gato que não é cão
uiva e ladra aos quatro ventos
arengando até mais não
quando lhe afagam lamentos

o bacalhau do sustento
é peça de fino trato
e pelo mesmo espavento
vai o carapau do gato

o pelintra chico-esperto
com padrinho e de gamela
prédio a prédio é mais que certo
ter comenda e vida bela

ninguém dele fica seguro
de sequer valer um chavo
mas é cão – é mula – é duro
pantanoso é pato-bravo

rataria é já família
os porcos são bons dadores
cágados vão p’la mobília
tudo engenheiros – doutores

na urbe o cão proletário
vadiando o doce embalo
tropeça num dromedário
dando chutos no cavalo

pelo andar que isto leva
tenho por certo e sinistro
que bruto sem saber peva
irá de burro a ministro

p’ra tanto lhe bastará
ter padrinho e bom cangaço
fretes dando ao deus-dará
jeitinhos de torcer braço

nem se leve ao bicho a mal
tanta cruz tanta agonia
que frete a frete afinal
depressa lhe rende o dia

e tanto sapo engolido
sem irmos à desobriga
p’lo beijo do conto lido
cresce-nos rei na barriga

por tanto vamos vivendo
contentinhos que nem ratos
pouco temos nada tendo
neste quá-quá-quá de patos

na labuta quais formigas
na alegria tais cigarras
felizes estamos p’las migas
ao som quente das guitarras

e há ursos – há camelos
bezerros pelas touradas
crescem a todos os pêlos
mas em todos há peladas

e chocas são mais que muitas
bestas que o povo consente
sejam às riscas – às pintas
tudo vai p’lo inteligente

chatos – pulgas – carrapatos
sanguessugas e carraças
há que dar corda aos sapatos
e fugir deles… cu’mò caraças!

– versinhos de Jorge Castro