praia, pelo contrário
ora
deixemo-nos cá de lérias e juntemo-nos à festança
de irmos todos p’ra férias
nem me falem de finanças nem porquês de fino trato
que eles vêm tantos de franças e doutras mais araganças
tudo a trote e ao magote
dando-lhe corda ao sapato
que há-de haver algum sentido escondido a bom recato
neste bulício pacato
deixemo-nos cá de lérias e juntemo-nos à festança
de irmos todos p’ra férias
nem me falem de finanças nem porquês de fino trato
que eles vêm tantos de franças e doutras mais araganças
tudo a trote e ao magote
dando-lhe corda ao sapato
que há-de haver algum sentido escondido a bom recato
neste bulício pacato
de idas e vindas infindas…
cá por mim estou decidido
fartinho de andar aos tombos todo o ano num sem-fim
vou à praia que me abrasa e fica perto de casa
e se ao longe ouço ribombos que são bombas ou são bombos
chinfrim de nos deixar zonzos
ficam distantes de mim
deixá-los…
na praia – que Deus a benza – de pezinhos dentro de água
nem me dá p’ra ver a mágoa deste país todo em cinzas
eu pela praia a abrasar e a terra em brasa espraiada
e então gritos de dor
tantos gemidos razinzas a provocarem-me abalos
– cabo-do-mar
por favor
vá num instante abafá-los!
que praia p’ra ser da boa
– digo eu que pago impostos aos meninos de Lisboa –
quer-se em silêncio dos mortos
bem deitadinhos
compostos
queimadinhos que é um gosto…
quer-se em silêncio dos mortos
bem deitadinhos
compostos
queimadinhos que é um gosto…
mas ao longe
a gritaria
causa tal desassossego
que o próprio mar se faz cego
a disfarçar a agonia…
vejam lá bem
quem diria?…
foto e poema de Jorge Castro