Ontem, dia 21, houve lugar para a bicharada em forma de poemas, na Biblioteca habitual. Como prometido, fiz-me acompanhar por um cão do Morfeu (Anomalias) e de um hipopótamo da Márcia Maia (Tábua de Marés).

Na vintena de pessoas presentes, quase todas com trabalhos originais e inéditos, apareceu, também muito Sidónio Muralha, O’Neil, Letria, Fanha, etc., etc., etc.
Já em plena preparação para uma nova deslocação ao Porto – onde terá lugar, durante os dias 23, 24 e 25 do corrente, o grande evento que dá pelo nome de V Encontra-a-Funda e onde será lançado mais um livro de cordel de minha autoria “Coisadas… em forma de poemas” – deixo-vos aí parte da bicharada com que me fiz acompanhar àquela sessão de ontem:

zooesia
há um pouco em mim de burro e de camelo
de urso até pelo basto e hirsuto pêlo
e vou zurrando de cavalo em remanso
e se apressado
dou passada que nem ganso

há ainda este labor de formiguinha
e um canto de cigarra que me anima
de coelho gosto à toca
que me toca
quando sinto pesadão o dia em cima

e como eu gosto de ter Agosto de sol
coisa assim que levo à conta de uma cisma
que em apertando o calor
eu caracol
largo a casca na nudez fresca da lesma

sobressalto e salto em pulga ou gafanhoto
e cordato lambo a mão feito cão manso
pulo e canto
de pardal e penugento
quando é feito de alegria o meu sustento

há bactérias e outras coisas deletérias
evasivas invadindo-me as artérias
mas a mente
para grande sorte minha
cruza os céus em mil voos de andorinha

e eu mio no amuo como um gato
e eu grato grito à lua
como um lobo
e eu levo cada galho a bom recato
quando casto qual castor vou p’rò meu covo

mas evito doces trinados de grilo
quando enfrento algum hipócrita esquisito

é que eu dou o corpo à luta e a cara ao dia
o que dá para alimento deste fito
de eu morder pertinaz
de crocodilo
mesmo quando o que me morde
for mosquito.

– Jorge Castro