– andaram por aí a distribuir condecorações, num ritual anual e patético, ao qual ninguém dá atenção senão os directamente envolvidos… Quem as atribui mal anuncia, receando talvez cair no ridículo. Quem as recebe não faz alarde, talvez pela assunção de que num país de méritos distorcidos, a distinção pode ser um insulto.
no meu país condecora-se a dor
não um poema
não um poema
se a lógica das coisas perturbadas
existisse
seriam condecoradas as árvores que sobrevivem
às labaredas do lucro
mas não
apenas se condecoram os eunucos do sorriso
e os promotores do frete
aqui e ali chamam uns pintores
uns escultores
algum poeta
para compor ramalhetes
consentidos
de teatro poucos
cantores nenhum
que a medalha não se prende em qualquer peito
e quem traz a voz ao alto
esse é suspeito
se a lógica das coisas perturbadas
existisse
não haveria condecorado em todo o mundo
homem algum.