no rasgo ardente e amargo do improviso
sobre algum triste pulha ou frade hirsuto
lança mal maior que peste ou escorbuto
com o gozo mais sublime que é o riso
não se lhe dando de ser pasmo ou indeciso
enfrenta a vida a peito e olhar enxuto
e rirá da morte até trajando o luto
sobrando em arte o que lhe falta em siso
com os magros costados na cadeia
dá assim um Bocage miserando
que não curva a cerviz por panaceia
pois não cuida de si em se cuidando
de mudar o mundo vil que o rodeia
sempre em dobro a penar do que vai dando.
– Jorge Castro