(ia despejar-vos aqui umas coisitas sobre a ética, mas pensei melhor e achei que cheios de secas já nós quase todos andamos…)

anda no ar esta secura que se entranha
em cada poro da epiderme adormecida
um desespero de vivência ensandecida
um abandono um mal-amar a dor tamanha
o desamor de se perder de nós a vida

somos um povo que no riso se faz triste
e mal resiste de tão débil ou canalha
de fatalista faz da bandeira a mortalha
por se perder nele o valor de um peito em riste
desafiante ao fio agreste da navalha

busca só deuses um santinho ou um demónio
que lhe sustentem a modorra pachorrenta
e assim fenece na masmorra pardacenta
a acender velas de tostão a santo antónio
e nem mais dando que a vileza não aguenta

então dos cantos tenebrosos da história
lá donde surgem azorragues e chicotes
já se perfilam tiranetes ou pexotes
feitos de lérias e brandindo moratórias
no atear de inquisições com seus archotes

ó povo triste triste povo que o teu riso
grite ipirangas sem recessos de saudade
e na porfia da urgente liberdade
descubra um mar azul imenso mas conciso
por onde singre clara e firme a tua vontade.

– Jorge Castro