eu não me enformo de amanhãs
nem me sustento
da palidez de alguma pétala orvalhada
o sangue
é hoje a pulsar nas minhas veias
(presa nos olhos a beleza faz-se em nada)

mas quero só ouvir o mar
ouvir o vento
ter o silêncio de algum céu enluarado
ter sempre ao lado um inconstante entardecer
e muito perto a doce e terna madrugada

tu podes vir
sabes de mim a tolerância

mas não perturbes nem sequer a leve aragem
um canto de ave
um restolho na folhagem
deixa-te estar
somente assim imperturbante
ouvindo os ecos de nós dois
em cada instante.

– Jorge Castro