“- Doutor, dói-me o peito”, queixava-se, aqui há uns anos, o amigo Fanha. Do cansaço, do tabaco…
Mas nós estamos, por cá, todos bem. Está aí a “rentrée”, seja lá isso o que for. Aparentemente, há uma altura do ano em que todos nós, até os mais altos mandatários de alguma coisa ou de coisa nenhuma, estão por direito divino incumbidos do superior desígnio de banhar as partes pudendas em salsas ondas. Quando regressam, lavados, puros e bronzeados, volta a ouvir-se falar dos amanhãs que cantam… até para o ano.
No horizonte, perfila-se o tremendo embate do Bucha e do Estica (grato pela sugestão, Eduardo), sob o olhar terno de um Pamplinas socrático e de um Sócrates trampolineiro. E o povo já não sabe em que lado do circo, bancadas incluídas, é que estão os palhaços.
A educação será resolvida a chicote e a segurança à vergastada. Transformam-se, por decreto, as escolas em armazéns de idiotas, com a hipócrita ou angustiada complacência parental, e as esquadras, carentes de verba, estarão vocacionadas somente para os novos “bailes dos bombeiros”, onde os respeitáveis agentes farão, tão só, guarda à sala, contra apalpões e outros desmandos brejeiros, acautelando danos no fardamento, de sua inteira responsabilidade.
Nas estradas morre-se imensamente pelas suas más concepção e confecção, sem que se conheça um só responsável, ocupadas que andam tantas cabeças imaginativas a congeminar como deitar mão a um carrinho de serviço privado, por conta de dinheiros públicos ou alheios. Nas estradas melhorzitas, o povo entretém-se a sublimar frustrações diversas, carregando com desvario no acelerador ou na buzina, na busca infrene do homicídio suicida, sem regras ou quem as faça cumprir.
O atraso nas listas de espera hospitalares está em vias de fazer com que as intervenções cirúrgicas se realizem apenas na geração seguinte: “- Sr. Doutor, estou aqui para fazer a artroplastia da anca que o meu paizinho – Deus o tenha! – tinha marcada há quarenta e dois anos…”.
E tudo patrocinado pelos tais que, vendendo a alma ao diabo das louvaminhas e hipotecando o corpo ao partido ou à seita, se desunham para alcançar um Jaguar topo de gama sem dispender um tusto, enquanto invectivam o povão que se crê merecedor de mais do que um desengonçado carro de decrépitos bois escanzelados!
Uma sugestão, séria e construtiva: A gajada que está envolvida em toda esta sucata – que alguém já chamou de “fascinismo” – não quer concentrar-se em Lisboa e proclamar a independência? Uma monarquia bufa, talvez, com o Alberto João de reizinho, um coro de querubins de apito dourado ao peito e todas as estações de tv, laudatórias, em fundo…
Entretanto, o resto do país – que continuaria por direito próprio a chamar-se Portugal – tentava descobrir um caminho marítimo para Bruxelas, de pera-rocha empunhada, aguardente de medronho marginal e tomates sem calibre, e por aí fora iríamos, singrando, em busca de um novo destino que nos tirasse esta dor no peito…