terra de mortalhas
de canalhas
e do gume alucinado das navalhas cruentas dos interesses simulados
pasmo de ódios e de invejas
e dos cínicos pecados que se lavam na água benta e pia das igrejas
e depois da inveja a indiferença
temperada por ganâncias
cobardias
e a terra que nos morre em agonias
arde-nos esta terra
esta mágoa
(e que bem aqui ficavam uns olhinhos rasos de água…
mas o olhar seco de miragens só pelo fumo se destrambelha de lágrimas)
arde a cidade e a aldeia
arde a terra e a vontade
arde o verde de uma ideia
arde o Sol e o luar
há esta ardência no ar que pega até fogo à morte
que lança até fogo ao mar
fica uma raiva no peito
punho cerrado
escorreito
sem saber como gritar
arde nos olhos a urgência de trilhar outro destino
de sarar as cicatrizes que nos cruzam as raízes
deste solo amortalhado
toque-se a rebate o sino
a inventar outro hino só de esperança e de vontade
que num rasgo de ousadia rasgue os muros
rompa os ares
traga nova liberdade.
– Jorge Castro
Coimbra – Agosto de 2005