donde nos virá maré
ou de feição algum vento sem lugar de nostalgia?
e nós presos neste chão
nesta aflição
enlodados no jamais sem alegria
geme o madeirame podre em agonias
sob as negras velas pandas que envelhecem
ah tão fétido este odor ao rés do cais
da malsã torpeza de almas que apodrecem
mas navegar quando?
e como?
e onde ?
e gritar porquê do lodo que nos tolhe?
logo além do pontão de um olhar preso
nesse molhe que é de choro e de azedume
se pressente a centelha
um céu de lume
por se ouvir já sobre limos e neblinas
o bramir daquele mar de luz aceso
porque não vemos tal mar?
porque persiste
sempre triste em nós quedar na embocadura
deste rio sem corrente ou desvario?
e tanto o frio
tanta a dor
tanta a amargura
tanto mar em nós perdido sem ventura
mas a barca ainda tem leme
e o braço é forte
e vede!
não teme a estrela de ser norte
nem o Sol de romper em cada dia
haja em nós o mar
o vento que transporte
a esperança
para além da nostalgia.
– Jorge Castro