quando se come um poeta
daqueles que muito apetecem
há que morder letra a letra
pois só assim acontecem

e depois regá-lo bem
com casta pura e sonhada
dando-o sem olhar a quem
que a poesia é bem dada

e enquanto se mastiga
com volúpia algum poema
há que sentir-lhe a cantiga
para que nos valha a pena

pois quem não gostar não coma
e quem não comer jejue
que nada tem mais aroma
do que o poema insinue

por fim um arroto breve
a contragosto soltado
dirá que o poeta é leve
quem o comeu consolado.

– Jorge Castro

poema originalmente lançado n’A Funda São, com açúcar e com afecto.