Vivemos num país escancarado às inovações. Tanto, mas tão pelintras – benzam-nos os deuses das coisas pequenas – que os exemplos colhidos na estranja, quando repercutidos cá no burgo, dão os resultados mais descabelados. Permitam-me que partilhe convosco um exemplo, que sofri recentemente:

Numa remodelação necessária da minha cozinha, dirigi-me à conceituada empresa que “in illo tempore” ma tinha instalado e solicitei orçamento para a aplicação de um forno e placa encastradas, com design do móvel de suporte similar ao do restante equipamento então fornecido.

Até aqui, tudo bem. Orçamento efectuado, aprovado e 40% do valor proposto liquidado para andamento da obra. Apenas um pequeno senão: actualmente a instalação está a cargo de um outsourcing…

Começa o calvário:

Três meses depois (isto é 2 meses depois do prazo por ela mesma contratualizado), contactada a empresa por total ausência de notícias, fui informado de que o trabalho estaria pronto para entrega, só que a “outra” empresa que procedia à instalação estava sem pessoal… e… portanto… que tivesse muita paciência… e tal;

Passados cerca de 15 dias, contactam-me, aprazando unilateralmente para uma sexta-feira, pelas 8h30 da manhã, para a execução do serviço… e tinha de ser nesse dia (útil) porque, senão, não sabiam quando poderia voltar a ser;

Pelas 10h30 do dia aprazado, já tendo abdicado de um dia de preciosas férias, e sem que ninguém aparecesse, contacto o fornecedor, o qual pedindo algumas desculpas a destempo, me informa que afinal a tal empresa decidira efectuar primeiramente uma instalação em Lisboa e só apareceria da parte da tarde. Nessa manhã eu já desmarcara uma consulta de Estomatologia que me levara 3 meses a marcar… mas paciência!

Pelas 15h30, chega uma camioneta à minha porta que descarrega o material… e vai à sua vida;

Pelas 16h00, com os caixotes à frente da porta e já com ameaças apocalípticas minhas, chegam dois “jeitosos” – penso que não eram profissionais habilitados, mas sim dois elementos dessa nova classe profissional de “jeitosos” – da tal empresa de outsourcing e dão início a uma pequena saga para instalação elementar de UM pequeno móvel com UMA portita e com a estrutura para o equipamento encastrável.

O equipamento eléctrico, mal instalado (os bicos aplicados, por exemplo, não foram os adequados para o gás utilizado…), deverá ter, um dia destes e sem possibilidade de marcação prévia, uma supervisão da empresa (outro outsourcing!) que representa a marca, em Portugal;

A pedra de cobertura que, contrariando as minhas expectativas devido a um português muito traiçoeiro, não estava considerada no orçamento, deve ser pedida à parte, a uma quarta empresa de outsourcing sugerida pela primeira e o respectivo orçamento revela-se uma espectacular exorbitância – quase tanto pela pedra como por todo o demais equipamento. Contacto um fornecedor das minhas relações e obtenho, para o mesmo tipo de pedra, um preço QUATRO vezes inferior!

Remate final: para instalar uma simples placa e um forno encastráveis através de uma das mais conceituadas (e caras) empresas nacionais especializadas no ramo, depois de ter liquidado imediatamente 40% do valor orçamentado, já decorreram três meses, já enriqueci as minhas relações com oito caras novas e, pelo ritmo da coisa e numa perspectiva optimista, tenho para mais um mesito e meio!…

Neste momento a minha cozinha está inoperacional e tudo foge às responsabilidades como o diabo da cruz!

Não, não estou a falar da administração pública, sempre o bombo da festa neste tipo de abordagens. Estou a falar de uma empresa privada, com pergaminhos no mercado!

Nem me atrevo a referir todo o conjunto de problemas de carácter familiar ou doméstico que tal palhaçada provoca. Do mesmo modo, as chamadas telefónicas são incontabilizáveis… Mas o reflexo da mesma palhaçada quer no preço final, como nos custos para o país, interessará a alguém contabilizar?

Como é um encanto o outsourcing em Portugal!