De noz em noz passámos nós
‘Inda para além da Taprobana
E tudo por mor de nós
E dos egrégios avós
Se fez de tantos mundos esta alma lusitana
Por tal somos bastas vezes só de nós próprios portais…
Talvez um pouco chineses
Ou goeses ou nipónicos em pendores orientais
Da Mafoma os mais cépticos ou quase cristãos atónitos
E de Buda reticentes
Visigóticos
Arábicos
Sem desdenharmos sequer o dom de sermos
Portuguêsmente malteses
E de tanto nós penarmos a fundo por tais degredos
Patagónias e Amazónias temerosas sem dar luta
Estremecem e entreabrem o livro dos seus segredos
A uma turba famélica inóspita e hirsuta
Ansiosa e ferrabrás
Que se diz aos quatro ventos de si mesma portuguesa
Nessa fúria fecunda e anseio bandeirante
De dar ao mundo infantes e desvendar outros mundos
Nessa força que à força tu me dizes quereres que seja
“Indómita e sem par” mas temperada com igrejas
Em cada rude e fera e vil longa viagem
Espalhámos pelo mundo a mestiçagem
A golpes de montante e bacamarte
Se dirá enfim que é cada um
De matriz feito para o que nasce
Mas de tanto espalhar por toda a parte
Esse amor lusitano algo esquizóide
Tanto engenho e arte em desperdício
Qual sacrifício de vulgar espermatozóide
Me parece ter restado
No primordial torrão amortalhado
Muito pouco dessa alma lusitana
E de amores só diviso de perfeitos
Os plantados no jardim mais que imperfeito
Que se queda junto ao mar
Sempre adiado.
– Jorge Castro