(A propósito de uma onda melancólica que julgo pressentir em alguns dos blogs que mais visito)



Cheguei até cá pela mão de duas jovens, a Inês (Provérbios) e a Thita (ABC dos Miúdos), cujas idades somadas não ultrapassavam o número 25, as quais nunca vi com olhos materiais de ver, nem sei se alguma vez verei. Mas presumo saber delas tanta coisa que ao ser humano interessa… Sempre achei esse facto uma graça e um estímulo.

Antes, volejava apenas pela “comunidade”, deixando neste um palpite, naquela uma dica, num terceiro um poema semi-espontâneo, a propósito de algum despropósito… Um dia, perto do Natal de 2003, chegou o desafio, já quase um imperativo: “- Amigo, passas a vida a visitar a casa dos outros… Não quero continuar a ver-te assim desprotegido. Aqui tens o teu blog. Sete Mares, que tu és OrCa. Serve-te?” – E cá estou, protegido por um pseudónimo e ansioso por uma identidade.

Depois disseram-me: o tempo médio de vida de um blog é de seis meses. Tanto bastou para que jurasse a mim próprio haver de empurrar este meu mundinho pela montanha acima, pelo menos durante um ano. Sempre fui sensível a esse encantamento de contrariar estatísticas.

Passaram já nove meses. Tempo humano consabido de gestação. Não dei porque o mundo girasse mais rápida ou lentamente por causa dos Sete Mares, nem fiz nada para isso. Sinto algum gozo criativo, vaidade quanto baste pelos comentários recebidos e deixo por cá o meu precioso tempo que é, porventura, do melhor que tenho para partilhar.

Curiosamente, os meus amigos mais próximos, apesar de avisados, por regra não me deixam um único comentário… O que me deixa algo inseguro com eles. O meu contador regista a modéstia de pouco mais de 8.000 visitantes, o que não chega a ser uma manifestação de rua que jeito tenha…

E, ainda assim, volto cá todos os dias e não cesso de me extasiar. Dir-se-ia que o meu mundo “lá fora” é fútil, fastidioso ou vazio, mas nem é o caso, bem pelo contrário… E, ainda assim, lá me espanto eu, com isto ou aquilo, vindos de quem mal sei e nem conheço.

E não é um vício. É uma vontade consciente – como deve ser uma vontade.

A “frieza” do monitor não é obstáculo para sentir o calor que existe nas lonjuras de alguém que está onde não sei. Devo, apenas, manter-me receptivo à complexidade e diversificação da chamada natureza humana.

E recebo convites para um convívio. Para a participação noutro blog. Num livro. Participo em concursos literários ou nem tanto. Discuto. Polemizo. Aprendo. Rio dos outros e de mim. Partilho.

Respiro e vivo!

A liberdade, bem como a felicidade, são tão mais preciosas quanto mais próximas estão da simplicidade elementar. Talvez por vezes não valha a pena complicarmos muito as coisas…