Há algo neste país que me escapa. Algo nele, na verdade, que me transcende.
Não gosto de quase tudo o que nele vejo e sinto. Quase desespero do que pressinto.
E, ainda assim, em cada dia conheço um novo poeta. Em cada dia, há um novo incipiente escritor que se me afirma. E a obra floresce a cada passo, numa urgência de novas cores de vida nova, em cada volta de cada esquina…
E lê-se pouco, quase nada. E são tantos os livros.
Só pode ser isto próprio de um povo quase náufrago, quase afogado por uma cultura dos egrégios avós. Cultura que nos pesa nos ombros e sufoca a razão como velhos reposteiros de arruinadas mansões senhoriais, que ansiamos possuir mas que não temos posses para manter.
De um lado, as fauces hiantes da besta mais fera e mais bruta. Do outro, o constante mas trémulo pulsar de uma estrela…
Não há poesia nisto. Há só uma raiva que nos consome e mantém.
Onde fica, então, com tanto mar em volta, o lugar da nossa dignidade?