Nota de introdução: O Diário de Notícias promove, até fins de Agosto, um passatempo que consiste em escrever um texto com o máximo de 100 palavras (título incluído), subordinado ao tema “Marcado Por Um Livro“.
Achei o divertimento interessante para férias e desatei a colaborar. Como é habitual nestas andanças, nenhum dos meus textos (deveria chamar-lhes textículos?) é publicado.
Como a minha autoestima (e autoconvenciomento) me garantem que tal não fica a dever-se à falta absoluta de qualidade dos mesmos, decidi partilhá-los neste meu espacinho de ondulações amistosas. Talvez alguma sugestão vos seja útil… Cá vai o primeiro:
LUCIDEZ
Farto da discussão, repeti, pela enésima vez, que Saramago era um escritor, apenas – se tal se podia afirmar, sem perturbar os deuses do bom-senso. E a escrita não muda a realidade.
Inflamado, esgrimia o “Ensaio Sobre A Lucidez”, autografado pelo autor, tentando convencer a minha namorada de que a obra não teria influenciado as eleições, proferindo a frase que terminou ali a nossa relação: “Oh, Marta, é preciso ser-se estúpido…”
Nem concluí. Furiosa, ela retira-me o livro da mão e dá-me com ele violentamente na cara, onde a lombada me rasgou o sobrolho, numa cicatriz que ainda hoje conservo…