(Onde perpassa algum cansaço de ouvir tanto dislate a político feito a martelo e a gestor aprendiz de feiticeiro…)
Tem a arte de dizer essa coisa delirante
De se não dominar bastas vezes por inteiro o que se diz
Ou dizer-se em desconchavo o que já antes
Disseram outros tantos
Com melhor modo e outro tempo
E de raiz
Se perante um artista insinuante
Que te diz um qualquer pouco ou quase nada
Que muito mais que pouco ou mesmo nada te diz
Experimenta no diseur poisar de leve
E se atentares bem no fundo dos seus olhos
Cedo verás
Que o artifício é da falácia a bissectriz
E então
Para estancar deliquescente verborreia
Não haverá decerto para ti melhor governo
Que encomendar o diseur aos quintos do inferno
Ou pedir aos céus o aconchego de uma ideia
Uma só que lhe empreste algum nexo ao que nos diz
Mas se o crês merecedor de uma palmada
Ou sopapo conclusivo no nariz
Não te acanhes no ímpeto da bordoada
Porque ele ri-se de ti
Se dele não ris!
– Jorge Castro