Da poetisa Ana Luísa Amaral, em cordão de sentidos vivos, chegou-me a mensagem abaixo, com pedido de divulgação. Cá vai:

Amigas e amigos,

A propósito do falecimento de Maria de Lurdes Pintasilgo, diz-me Maria Teresa Horta o seguinte:

“… porque mulher, precisamente, o Presidente da República năo decretou que tivesse

(como aconteceu a todos os outros primeiros ministros, e até, recentemente a Sousa Franco!!!) funeral de Estado!!!”

Pede-me ainda que passe a palavra. Assim o faço. Reclamando do facto. E da imensa injustiça.

ana luísa amaral

E, com a vénia devida, se transcreve, da mesma autora:

Vi-a talvez umas seis vezes. Era uma senhora (porque năo se há-de assim dizer de uma mulher, se de um homem se diz “era um senhor”, e isso parece dizer tudo?), era uma feminista, era uma poeta, no sentido “poético” que a palavra tem – ou seja, preocupada com a polis. Tive a honra de participar num livro em que lhe fiz um poema. Votei nela há muitos anos e sofri por năo ter sido eleita. Acompanhei-lhe a vida pública. Fez-me sonhar com coisas que nem utopias seriam, mas a sério: a ética do cuidado, por exemplo. Ou um exemplarismo de viver. Năo se pode dizer exemplarismo, pacięncia! Aqui, pode-se; e depois, ela pareceu-me sempre ser aberta ŕ possibilidade. “A morte é uma curva na estrada, morrer é só năo ser visto.”, dizia Fernando Pessoa. Nestes tempos tăo de tormenta em que vivemos, quero chorar, solidarizar-me e agradecer pela presença de assim alguém, que, como eu disse nesse poema, tentou sempre fazer que “no deserto / alguma flor / persista”.

ana luísa amaral