Agradeço-vos a visita e a exposição dos estados de alma – a mais difícil.

Nada do que se passa é definitivamente trágico. Nem irreversível, em termos de Humanidade. É, apenas, um momento que passa na sequência dos momentos que passam…

Misturar afectos e política é sempre um mau negócio para os afectos.

Para mim, o mais temível é o desleixo ou abandono do exercício de cidadania. E esse repete-se diariamente em tantos de nós que, quem a eles estiver atento e sensível, poderá considerar-se, de algum modo, anestesiado a um dia como o de hoje, em que tudo parece desmesuradamente cinzento ou cínico. Garanto-vos que a vida continua e os nossos envolvimentos poderão assumir outras formas, outras cumplicidades… Diria que a nossa glória advem do facto de sermos capazes de nos reerguermos após cada derrota, vicissitude ou contrariedade, e seguirmos em frente.

Mas isso todos o sabem, só que a raiva, por vezes, é tanta que nos apetece esquecê-lo e assim agimos. Talvez essa aflição tenha atingido Maria de Lourdes Pintasilgo, agravando a nossa pena…

Portugal não é, no entanto, um país de marinheiros, como digo no poema abaixo. Há-de ser outra coisa qualquer, que desconhecemos, mas coisa essa que devemos, porfiadamente, procurar bem dentro de cada um de nós. Mas todos e cada um, sem nos demitirmos do direito a viver. Procurando e ensinando. E, então, a vida continuará em cada manhã que, afinal, ainda desponta.