by OrCa | Set 14, 2012 | Sem categoria |
Depois de tudo quanto foi dito e de quanto mais se possa vir a dizer, aqui se declara que este cidadão considera que o actual governo perdeu a legitimadade para a governação do País – do qual, aliás, apenas uma parte relativamente pouco significativa do eleitorado o terá eleito – e que deve apresentar imediata demissão. A bem ou empurrado…
Talvez não fosse má ideia, entretanto, perante os resultados que nos vêm sendo apresentados de há mais de vinte anos a esta parte, que o próximo elenco governamental fosse contratado através de anúncio em jornal da especialidade – que os há em profusão -, com contrato a termo e manutenção mediante bom cumprimento de objectivos pré-definidos.
Ah… poderia ser um governo de iniciativa presidencial, já agora, para lhe conferir alguma credibilidade. E à Assembleia da República competiria, em coordenação com o senhor presidente da República, a fiscalização da actividade governativa.
Tenho a certeza de que, em termos de sensibilidade social, nada ficaria a dever a estes que temos tido e que, aparentemente, do conceito de nação apenas guardam o preceito do «venha-a-nós-o-vosso-reino» .
by OrCa | Ago 9, 2012 | Sem categoria |
Com edição da Levoir, S.A. e comercialização do jornal Público, aconselho a leitura deste livro:
Criatividade, originalidade, ainda que assumidamente sustentada em fontes da nossa literatura de antanho, sensualidade, erotismo, crueza, Jorge de Sena proporcionou-me (mais) um encantamento de leitura, que muito recomendo – bem entendido, a quem não conheça a obra (como era o meu caso).
Trata-se de um daqueles livros que inspira poesia, pintura, cinema… eu sei lá que mais. E numa ambiência que Jorge de Sena teve artes de criar e com a qual me senti inexplicavelmente identificado. E nisso reside, para mim, muita da arte do autor nesta obra.
No Físico Prodigioso parte-se, durante e após a sua leitura, para uma cavalgada – necessariamente gloriosa – pelos caminhos da imaginação e do mistério, coisas ambas que contrariam o cinzentismo pasmacento em que (sobre)vivemos..
by OrCa | Jul 12, 2012 | Sem categoria |
Neste atoleiro em que nos fomos e vamos deixando cair, afinal o que há mais é saídas… e responsáveis (como alguns sabem mas outros nem por isso…)! Aí, à mão de semear. Quem os não conhece?
Dêem por bem empregue o vosso tempo e ouçam:
http://www.youtube.com/watch?v=WOrv8IH1ZB0&feature=endscreen&NR=1
by OrCa | Jun 5, 2012 | Sem categoria |
José Régio e o seu Cântico Negro são referências que me ocorrem ao olhar para a linha evolutiva de Portugal, de há uma trintena de anos a esta parte, cruzando essa observação com as discursetas que nos chegam do poder e dos poderosos e com a realidade que apuro de uma imensidão de testemunhos directos daquilo que poderia chamar-se de «amargura de viver».
Entretanto, o circo. Ele são os concertos inundados de futilidades, os futebóis que continuam a «arrastar multidões» – ainda que mal se apure para onde é que elas estão a ser empurradas – e os seus rios inesgotáveis de dinheiros públicos, os bancos alimentares contra a fome e em favor dos possidentes, as galas do espavento em favor dos possidónios, que nos são impingidos entre profundos decotes e não menos profunda vacuidade.
A par disto, a falta do pão, a miséria do estado para onde se está a levar o ensino público, a saúde pública e tudo que é público, afinal, perante um quase pasmo alheamento dos cidadãos.
E quando, por fim, uma reacção surge – veja-se como exemplo a luta dos professores contra as Marias de Lurdes Rodrigues do nosso descontentamento -, logo ela se torna inconsequente e esvaziada de conteúdo perante a falta de apoio sustentado por organismos de cariz social que sejam capazes de desfraldar a bandeira da cidadania, de modo um pouco mais consequente, mais parecendo que somos todos um rebanho ordeiro e acarneirado, felizes por termos os cães que temos e que nos mordem os artelhos para nos manter no redil, por mais virtual que este seja.
Logo mais, ao descobrirmos que os cães são, afinal, lobos, chacais ou hienas, damos tudo de barato à conta da desgraça do destino no tom dolente de algum fado.
Traímos uma geração e hipotecámos o futuro com a ligeireza, insensibilidade e violência de um gang mafioso; permitimos que o Estado – que somos nós! – seja o principal mentor e factor da mais despudorada, vil e criminosa desregulamentação de todo o «estado de direito» em que alegadamente vivemos, do «estado democrático» que alegadamente constituímos, onde direito e democracia são meras palavras esvaziadas de conteúdo na rudeza clara e bruta do dia-a-dia.
Abandonámos os nossos velhos, condenando-os ao martírio da solidão e da exclusão social – e carpimos hipócritas lágrimas de crocodilo por isso –, expulsámos os nossos jovens com o paleio reles e desconsiderado da «busca das novas oportunidades» em solo estrangeiro, numa invocada nova gesta da diáspora, mas agora sem caravelas; zurzimos a «classe média» – leia-se o trabalhador por conta de outrem, os poucos que ainda têm algo a perder – com a mais abjecta subversão das regras laborais, em particular, e sociais, em geral.
Alinhamos em todo esse circo, impávidos e colaborantes activos, já nem sequer exercendo o direito ao voto pois, como sempre se prova, não vale a pena e atrás de nós virá quem de nós bons fará.
Estarão, estaremos a transformar-nos num povo de canalhas?
Olhando para o futuro e a não ser que desponte uma vaga emergente da turba dos indignados, dos precários, dos desempregados que seja capaz de varrer este lixo em que nos vamos atascando, desespero-me para encontrar sinais de sobrevivência…
Nota de rodapé e desabafo – Não cultivo nem gosto, por hábito, do pessimismo, até por atitude filosófica de vida. Mas há momentos em que essa vida nos dói, porra! E nem só o humor ou a ironia podem ou devem esgotar o nosso espírito crítico.
by OrCa | Mai 2, 2012 | Sem categoria |
Se há momentos em que me assalta aquela incómoda e desconfortável vergonha pela prática de actos por parte de terceiros, ontem, dia 1 de Maio de 2012 foi um desses dias, ao ter conhecimento da lamentável atitude «promocional» da cadeia de supermercados Pingo Doce.
Não pelo lastimável espectáculo proporcionado pelo rebanho despolitizado, egoísta e/ou realmente carenciado (que também os há-de haver e em quantidade), pois esses são os habitantes do «Portugal profundo» que existe em tantos de nós, as «maiorias silenciosas», ordeiras, trabalhadeiras mas oportunistas ou «sobreviventes», que vendem, entretanto, a alma ao diabo por um prato de lentilhas… desde que sejam elas a comê-lo. Aqueles que nos tempos salazarentos afirmavam, com uma espécie de corajosa covardia, que a política deles era o trabalho e que se davam muito bem com isso.
Os mesmos que, hoje, vão dizendo a mesma coisa, escudados no argumento falacioso de que o que o país precisa é de «trabalho», para sair da «crise», mesmo que seja trabalho escravo, indigno ou ilegítimo.
Mas pela atitude da corja empresarial deste tipo de calibre – pois creio bem que existe outro tipo de empresários –, mais a cáfila de assessorias que os ilumina, que é capaz de abandalhar – com a conivência do rebanho acima, de quem interpretaram bem o sentir – o dia que deve ser o mais caro para quem tenha do trabalho a devida noção do que isso representa para a dignidade maior do ser humano na comunidade em que se insere.
Cinquenta por cento de desconto em compras acima de cem euros, entretanto, coloca-nos questões elementares, a responder com urgência por quem chefia o Estado da nação:
– Se estes descontos puderam fazer-se sem prejuízo, então o lucro nas transacções habituais é abusivo, desonesto e merecedor de punição pública;
– Se, pelo contrário, estivemos em presença de «dumping», com venda de produtos abaixo do preço de custo, então a atitude cai sob a alçada da lei vigente e impõe-se célere e conclusiva bordoada nos espertalhóides que a promoveram, através de mera aplicação legal – que a ASAE sirva, enfim, para alguma coisa, na defesa efectiva dos interesses do cidadão;
Entretanto, convém não perdermos de vista que, num ou noutro caso, o extraordinário fluxo financeiro que correu pelas caixas do Pingo Doce estará hoje a ser encaminhado para a sede do grupo domiciliada no estrangeiro, com manifesto e consabido prejuízo para a economia nacional.
Ora, isto, assim configurado, permite-nos dizer aos distintos governantes eleitos que nos calharam em sorte que podem limpar as mãos à parede com a autorização concedida a estes grandes grupos de interesses para abrirem portas em dia feriado de alcance mundial. Para além de se ter promovido uma profunda clivagem entre os cidadãos civicamente conscientes e os consumismo-dependentes.
Claro que, neste caso, os nossos gurus de serviço não se perturbam com a imagem que transmitimos aos «mercados». Afinal, a malta até ainda tem uns troquitos guardados para alinhar nestes desvarios. E isso é o que os «mercados» querem saber… e o resto é conversa.
Falta agora que o senhor ministro das Finanças faça um levantamento e retire rendimentos de inserção social e/ou isenções de pagamento de taxas moderadoras àqueles que tenham acorrido, ontem, às catedrais do consumo. É que no aproveitar é que vai o ganho e, assim como assim, lá irão pagar outra vez alguns mais dos mesmos…
Também como alguém disse, o acto teve outro grande mérito: serviu como ensaio geral para quando as grandes superfícies forem assaltadas pela multidão dos descamisados com fome. Mas, claro, nessa fase sem passarem pelas caixas.