Vou encalorar-me e encher-me de pores do Sol. Vou espreitar gritos de gaivotas e mergulhar no mar de tudo.
Irei, inevitavelmente, cruzar quilómetros de areia e deslumbrar-me com a variedade das conchas.
Haverá, seguramente, brisas e maresias. Não serei capaz, contudo, de evitar algumas bolas incómodas que os atletas dos castelos de areia atirarão contra mim.
Preocupa-me o saber se o Bin Laden ou o Bush têm existência real. Não sei, na verdade, se existem ou se não passam de meras projecções dos noticiários. Blair não será, ele próprio, alienígena? Não sei, sequer, qual é o sangue mais vermelho, se o londrino, se o iraquiano…
Terei sempre perto de mim um livro e um bloco de apontamentos. Alguns ficarão, até, salpicados de sal. Mas não irei ler ou ouvir “notícias” durante o breve lapso de quinze dias. Florestas e matas continuarão, assim, a arder sem que eu o saiba, excepto se o vento me trouxer uma sugestão de cinza.
Nada terá, entretanto, mudado significativamente quando eu regressar, que assim é o mundo. Eu tentarei mudar um pouco, apenas para contrariar tal estado de coisas e na certeza de que ninguém dará por isso.
Ingloriamente, claro, mas como alguém já disse “mesmo sabendo que o mundo acabará amanhã, ainda assim plantarei uma macieira”.
Até breve. Com Eugénio de Andrade “eu vou com as aves”…
– fotos de Jorge Castro